sexta-feira, 20 de maio de 2011

Meninas de Santo Amaro

Vejo minha filha que agora dorme, sonha com cavalos de açúcar, uma nuvem de algodão doce passa lenta em formato de coração. Sonha com o sabor inconfundível do chocolate derretendo em cascata, e com os dedos e as mãos sujas lambuza a alma na doce melodia que cerca cada loja de doce do mundo.

Lembro-me das “Meninas de Santo Amaro”, assim chamadas carinhosamente por meu avô; “doceiras inconfundíveis”: de acordo com minha avó; “um doce de senhoras”: segundo todos que as conhecem e as conheceram.

Quando me acidentei, um atropelamento muito feio na Marginal Pinheiros de São Paulo, recebi a visita de todas elas, e me levaram....UMA CAIXA DE BOMBOM!!! UHMMM....

Como as folhas que, da janela de meu quarto, via caindo a cada outono, o tempo ia. Quantas flores outonais nasciam em minha janela, mas sempre me lembrava de todas elas entrando na sala para me visitarem, uma a uma.

Estou com 30 anos, e o tempo é implacável, e curva o espaço à seu favor. “As Meninas de Santo Amaro” vão ficando na memória como uma doce lembrança de sua fortaleza e doçura. Sim, doceiras natas, pois elas são doce, e conseguiam transmitir isso em sua arte, os dedos e as mãos que teciam do “fio de mel” aos “cabelos de anjo”, olhavam fixamente como “olhos de sogra”, e apaziguavam as pessoas com “Pastéis de Santa”, de Santa Clara, porque sempre acreditaram em seus “sonhos”.

Hei-las, meninas, moças, senhoras que construíram um belo jardim de amor; embeberam suas lágrimas em açúcar e ofereceram às bocas abertas dos anjos famintos. Hei-las que do tempo de meninas guardam o mais importante: a virtude de ter doçura sempre.

Ontem, 19 de maio de 2011 marco o fim da vida terrena de Maria, uma das “Meninas de Santo Amaro”, guardo em mim seu sorriso, uma incansável guerreira rota em tempos de guerra, seu obituário são folhas outonais, que vão passando e voando pessoas, casas, ruas, até encontrarem seu destino final: a grama verde de onde brotará uma nova e bela flor.

Olho minha filha, e ela está dormindo, quem sabe sonhando com caixas e caixas de bombons, e sem perceber, um sorriso nasce de meu rosto...Vá com Deus Maria.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Enfermagem Psiquiátrica e a Pisque do Sorriso.





(Uma Introdução para pensar e Sorrir)

Um fluxo de energia roda solto pelo ar. É possível senti-lo; é possível tocá-lo; ouvi-lo é como sentir nos arautos timpânicos os sons de anjos se deliciando do mel da bondade.
Tocamos, talvez, nos ombros de nosso próximo e não sentimos nada, só ouvimos de leve vozes vociferando por alguma cura para nossa insanidade de permanecermos inertes àquele irmão que não precisa de muita coisa; apenas uma vóz amiga, ou uma amiga palavra, e cunhamos de racionalidade nossa insistente percepção de medo frente ao desconhecido.
Olhos tangenciam além da imagem e mordazes criticamos até mesmo o lirismo dos olhares, calamos a relva de uma revoada de andorinhas com o leve toque indicador que imperativo circuscreve a descrença frente ao último atoda soliedariedade humana...perdemos mais uma vez o fluxo de energia.
Sintetiza-se e minimiza-se a sanidade por padronizações socialmente aceitas, sem se esquecer que a sanidade advem da alma, do espírito, não do fato concreto para o fato concreto, mas da concretude inexorável e inefável do caminho aos céus, portanto, não é uma busca pela sanidade de padrões, mas de sanidade de coração...é amor, pelas ultimas palavra do mestre Cristo que em riste ergueu esta bandeira mesmo frente ao ódio da crucificação.
Nos apoderamos desta usina de loucos e criamos o insano sentido da dor pela descrença no outro e substituímos o afago pelo castigo normatizador, sabias palavras por fármacos insanos, o amor ao próximo pela ciência irracional da contenção mecânica, a missão pelo caminho mais curto...perdemos mais uma vez o fluxo de energia.
Quero dizer que lajeado de nossa ciência temos um coração e dentro dele muito mais que sangue para “pré-carga” e “pós-carga”, e sim o que recarga de sentido o real caminho para o abraço sobre a humanidade, acompreensão científica do corpo e do espírito: a psique do sorriso.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

O Preço de um sorriso.







Hoje estava lendo minhas antigas postagens...as cólicas da Alice, as noites preocupado com a coitada se contorcendo, a primeira vez que vi a mãozinha dela, o primeiro sorriso...Caramba...o tempo passa rápido...
Hoje ela está com sete meses, uma meninona linda, risonha, de genio forte, curte desenho, ouve musica erudita, jazz, blues, pagode (dos falantes das lojas, e claro) e acha graça de tudo isso.
Pensei em fazer um "Myspace" pra ela onde iria colocar umas musicas que fiz quando a Lidiani estava grávia e outras que fiz ao longo de quando ela ia crescendo, mas nossa...não dá....ahahahaha
A Alicinha é espoleta...quando tá acordada quer ficar conversando, no andador, de pé no cercadinho, puxando o cabelo do pai, no colo, no lombo do cachorro...quer o mundo em desespero!! Nossa, como cansa...
As vezes me deito pra dormir, olho para a Lidiani, e parece que fomos atropelados, quase que vejo os orgão internos meu e dela se enrolando um no outro para dormir!!!ahahah
Mas não tem nada como o sorriso da Alice...Faz qualquer dia ruim virar no melhor dia do mundo...
Como devem saber, estou desempregado. Um dia recebi um e-mail relatando que a prefeitura iria abrir 125 vagas para enfermeiro...Contrato de urgência...
Lá fui eu...Acordei 5:30 da manhã, afinal o carro estava no rodizio, saí de casa às 6, cheguei ao local eram 6 e 45...eu era o 730 da fila...que ao chegar ia da Oscar freire até a Augusta...(pra quem não conhece é só imaginar 729 pessoas enfileiradas)...
Uma senhora a minha frente fumava sem parar, e eu estava começando a passar mau com aquela fumaça toda...fedia a esterco podre...
Como se não bastasse a senhora chamou muitas pessoas para entrarem em sua frente... não aguentei:
"Minha senhora, estamos aqui desde cedo, e não acho justo isso que a senhora está fazendo. pegamos sol e chuva juntos, e estou aguentando esse odor fétido vindo do teu cigarro e da senhora, e se alguem for em tua frente vou falar com o segurança."
Resumindo: Briguei com a senhora, e as pessoas foram para o fim da fila e ela ficou o tempo todo me chamando de ignorante, e fumava mais que nunca...pois percebera que aquele odor me incomodava!
Fui cansado para a aula na pós-graduação...Aula de bioestatística...
Cheguei em casa, fedendo, cansado, nervoso, e ao chegar...Alice...olhou para mim e sorriu...
Quis chorar de felicidade...ganhei o dia!!!
Estava pronto para mais um dia!!

A Pupi se foi e deixou saudades...

Em silêncio ela dorme, entre as estrela ela descansa nas profundezas de sua eterna ida.
Não se sabe exatamente de onde veio, de que casa, de que cidade, ou ainda seus pais. Não se sabe se era de graça pura ou de pura raça.
Ela chegou junto com a onda dos games de 24 bits, em meio aos sons de lutas, batalhas, super Mario e Sonic rolando na TV. Trocada por uma fita de vídeo game, em uma tarde qualquer em que os sons dos games e o odor do chiclete se confundia em seu coração palpitante por ter arrumado um novo lar, e sabe-se lá se ela havia esquecido o que era um lar.
Chegou sem nome, querendo ser a única no meio daquela numerosa família. Olhou ao seu redor, um barbudo sério lhe sorriu de canto de boca, uma mulher a pegara no colo enquanto três crianças lhe deixaram ainda mais feliz: “vou ter com quem brincar!”. Um menino de cabelo tigelinha, outro, mais velho com os cabelos desgrenhados (dava para ver que ele pretendia deixar o cabelo crescer), uma menina morena, linda e sorridente. Ao longe viu um homem alto e cabeludo, e junto a ele um casal de idosos: “eis aí, minha nova família!”
Foi levada ao quintal onde conheceu sua rival, uma cadela gorda e orelhuda. Brigaram até o fim da vida da gorda orelhuda! Cão é assim mesmo, briga por território...briga por carinho e atenção...
O tempo passou...
Passou muito...19 anos...
A família foi diminuindo e aumentando ao mesmo tempo... Muitos indo para nunca mais voltar, outros de passagem iam a passos lentos, quase que escondidos ou escondendo algo, outros simplesmente foram, e o tempo trouxe filhotes e pessoas novas...
Sentia frio, e tentava virar as páginas de uma vida de luta e brigas por atenção e carinho, agora a luta era se manter viva...Caminhava torta em meio a vultos, e em meio ao silêncio. Não conseguia manter-se em caminho reto, a vida lhe era torta... Vencera derrame, derramou-se em sua idade avançada, caia e se levantava, rodava em caminhos que não podia ver, caia em bueiros para ser resgatada por amigos, tomava chuva por não saber que era chuva, e o barbudo que lhe sorrira de canto de boca, quando chegou, hoje derrubou algumas lágrimas sinceras quando olhou sua vasilha de comida...
Nesta manhã, 25 de abril de 2011, faleceu.
Em silêncio ela dorme, entre as estrela ela descansa nas profundezas de sua eterna ida.
Não se sabe exatamente de onde veio, de que casa, de que cidade, ou ainda seus pais. Não se sabe se era de graça pura ou de pura raça.
Obrigado Puppi por 19 anos conosco, vamos sentir muito sua falta...
Puppi, tentei procurar uma foto sua, e a mais bonita que achei está em meu peito...

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Assassino do realengo!



Mais um dia no paraíso dos inúteis. Sentei-me em uma poltrona num canto qualquer da sala, senti o cheiro fresco de café e jornal a se curvarem a minha frente, como uma flor frenética que aguarda ser desflorada. A capa do jornal: Um sobrenatural morto por si, achando ser santo, Deus, sabe lá o que, um monstro de batina, ou de barbas longas: O algoz assassino do Realengo. Leio com lentidão a notícia enquanto degusto meu café, sem açúcar. Até que enfim, a polícia conseguiu restaurar o disco rígido do computador desse cara. Meus dedos do pé tateiam o chão com minhas longas unhas, unhas de cavoucar a terra pra se enfiar dentro sempre que fico com muita raiva, igual a que senti quando soube do assassinato daqueles pequenos. Chego ao computador e o ligo. Noticia na internet: Veja os vídeos do assassino do Realengo. Entrei em todos os links buscando alguma sanidade na insanidade daquele monstro. Merda, tenho uma filha linda, e me coloco no lugar daqueles pais, o café me desce escaldante pela garganta, sinto vontade de urinar sobre o cadáver desse monstro: Delírio de meus monstros; ou desejo de vingança: "Se um burro te der um coice, você vai dar um coice no burro?!" Lembrei-me destas sábias palavras de meu pai.Não quero me equiparar a este tipo de animal, não desejo que meus monstros se configurem em seres imundos de sangue como este pirado. Preciso ser racional, ler e deglutir a noticia com racionalidade, afinal quero fazer algum comentário bacana sobre essa notícia em meu blog, ou simplesmente responder a mim mesmo algumas indagações. Ok. O cara disse sobre matar infiéis e colocou uma situação de dois grandões falando de como é bom tirar um sarro dos babacas: Bem, a dizer isso, porque esse cara não tacou fogo nos grandões, ou foi fazer esse lance em uma academia cheia de caras bombados?!? Medo de tomar um pau?!?!? De morrer apanhando?!?!? Outra: Onde esse cara arrumou dinheiro para sobreviver? Do seguro desemprego?? Porque um merda desse só pode estar doidão, ou ser doidão para fazer uma atrocidade desta. Dizem ainda sobre desarmamento. Não tenho arma em casa, nunca tive e nunca terei, mas e aí...Sou contra o desarmamento, porque irá desarmar pessoas corretas, porque alguém acha que algum marginal vai entregar suas armas à polícia, vai deixar de comprar armas porque é simplesmente contra a lei? Que lei é essa que priva de liberdade as pessoas de bem e alimenta bocas assassinas, que dá uma escola de como fazer o mau em meio as suas frias grades. Escondo meu rosto nesse momento e lamento as mortes do realengo, e relembro, ainda, as mortes da candelária e a fábrica de assassinos de nosso sistema judiciário. Meu Deus, Me curvo insano sobre meus pensamentos, e delirante busco compreender a violência...sem sucesso...violento minha mente e meu espírito Culpado! CULPADO! É a única palavra a ecoar em minha mente. Culpo o Estado e suas instituições por criarem, fabricarem, alimentarem e adornarem monstros como o assassino do Realengo...sim, sem nome, porque é um mero número de obituários, mais um na estatística da violência, e pra que nome?! Ele que queria ter o nome de Santo hoje tem nome de Assassino do Realengo... Culpo esse monstro por ser quem é, pois o homem tem escolha e a única coisa que não se pode aprisionar é a mente e o espírito de um homem, que é capaz de transpor qualquer muralha, e este monstro se enclausurou na ignorância e na obediência cega! Culpo a religião e reafirmo o que K. Marx disse a muitos tempos atrás: "A religião é o ópio do povo!" E alucinado esse enfadonho ser que caminha hoje pelas trevas teve coragem de assassinar 12 crianças...Assassinou porque estava drogado sim, drogado de fé cega, religião fajuta de seguidores moribundos de razão, que acham ser a salvação para o pecado, e dizem amém ao martírio de inocentes. Desligo o computador, e fecho o jornal. O coração pulsa intenso, me sinto cansado, sinto enjôo, e estou imundo do pó da terra, devo sair deste buraco que cavei com meus pés...sigo até a cama e me deito...Durmo e sonho com um mundo melhor.