Esses dias acordei com a Alice fazendo aquela cantoria...Um canto mais irritado que o normal, e
bem forte...Acordamos, e a Lidiani pegou Alice no colo, e como de
costume inicia o "balangandã" (balançadinhas de um lado para o outro)...Alice parece inquieta e volta a cantar ainda mais forte...Deve ser cólica, pensei, e nós no balangandã com a criança! Acho
que é a mesma coisa que agitar uma latinha de coca-cola...agita e na hora de abrir é aquela coisa
espirrando pra todos os lados...
Lidiani decide colocar Alice em meu colo, eu, em meu papel "totênico" quase dormindo sobre a criança, igual a história do tio bebum que todo mundo fica com medo, afinal, peso uns 120 Kg.
Enquanto eu, quase babando na coitada da Alice tentava colocar-lhe a chupeta na boca, enquanto Lidiani preparava uma bolsa de água quente pra colocar na barriguinha de Alice.
Lá veio a bolsa de água quente...colocamos em sua barriga e logo em seguida iniciam-se gemidos
e torções de tronco, o sons de seu abdome são como a de um cão raivoso uivando na noite fria,em seu rosto olhos apertados, boca selada, e nem um véu sobre sua aura, somente a ensurdecedora dor.
Iniciei a massagem, em movimentos circulares. Perda de tempo, afinal ela detesta estes movimentos em seu abdome quando está com cólica. Seus braços se movimentam intensamente como se quisesse reger uma orquestra existente somente em seu intestino, ruídos hidroaéreos raivosos de um movimento Alegro de uma sinfonia funesta.
Funchicórea, quem nunca ouviu falar neste "remedinho" milagroso?! Uma chupeta embebida em
uma porção generosa desse fármaco natural. Ela toma a chupeta em sua boca e a chupa com tanta força que chegamos a ouvir estalos, parece um tiroteio ou um filme de Bang-Bang...Logo após, ela em sua eminência de dor, cospe a chupeta como quem escarra um pedaço do pulmão...Choros e berros....
Mylicom, ou Semiticona, 3 gotinhas na boca...Parece que ela percebe que aquele é um fármaco que tentará aliviar suas dores e nem liga e deglute o liquido de maneira sorrateira. Os ruídos ficam mais audíveis, e os uivos mais parecidos com a de lobos das estepes...Não tivemos sucesso...
Neste momento, depois de 2 horas e pouco de choros, olho para minha mulher. Está com os olhos
rasos d'água, um semblante vencido pelo cansaço e pelo gosto da derrota, de uma forma que eu nunca havia visto antes, afinal ela estava frágil neste momento, ou melhor fragilizada, e ela que sempre foi forte e que sempre lutou até a ultima consequência para conseguir atingir seus objetivos estava acoada. Pedi-lhe que fosse dormir um pouco que eu tentaria mais algumas coisas, não porque me sentia mais forte que ela, afinal estava derrotado e desmoronado, mas por respeito a sua luta e a sua força inesgotável de mãe e mulher, pois era o desespero da mulher que sobressaía, e o que a mantinha em pé era o amor de mãe que lhe dava forças, foi sim, por puro respeito que pedi-lhe que fosse dormir um pouco. Pela primeira vez ela acatou a meu pedido.
Encostei a porta do quarto onde Lidiani estava dormindo e me encaminhei para o quarto da frente, eu e minha pequena chorosa, coloquei-a de decúbito ventral sobre meu abdome, e nada...choros e mais choros...até que a coloquei nesta posição na cama e iniciei uma massagem em suas constas...ela foi acalmando lentamente, até que, depois de 3 horas e meia de luta, com o Sol do outro dia batendo em nossa janela, ela dorme...6 e meia da manhã...é hora de levantar...
Todos os outros dias seguiram com a mesma intensidade de cólicas, até chegarmos em nossa idéia de rodízio e medicações profiláticas, não que sempre resolvesse, mas na maior parte do tempo resolvia. Um dia eu ficava acordado, ou outro ela, e se em meu dia ou no dela, ficassemos
de saco muito cheio, chamaríamos o outro para um breve apoio ou um papo de loco em meio a gritaria. Damos Mylicom, simeticona em três gotas, antes da mamada das 7 da noite, refazendo a
medicação as três da manhã, de forma profilática. Caso ela chore muito, fazemos uma chupeta caprichada de Funchicória, descobrimos que não tem muito efeito com relação a cólica, mas que é um ótimo calmante, quase um analgésico ou anestésico, dado seu sabor doce.
Descobrimos a pouco o lance da "farinha de aveia", e que pode ser um aliado. A receita é simples: 1 colherzinha de farinha de aveia na água, ainda fria, onde se fará a mamadeira, coa-se 2 vezes para evitar que o farelo engrosse o leite, depois é só esquentar a água esbranquiçada e fazer, com esta, a mamadeira da criança. Fazemos isso só no período noturno, em que as cólicas são mais frequentes, nas mamada entre 7 da noite e 6 da manhã, de 1 à todas mamadeiras da noite,
dependendo do caso. Todavia acabo de ler que se a criança é sensível a lactose isso não deve ser feito, e mesmo que a criança não tenha nada é bom falar a respeito com o pediatra, afinal, é uma
coisa a mais que se põe na dieta da criança e por ela ainda estar se adaptando a este mundo pode ser uma coisa a mais para se preocupar.
Entre este meio tempo fazendo guarda noturna cada um tinha seu método específico...A Lidiani a nina com seu "balangandã" milagroso com leves tapinhas no bumbum, com a Alice em decúbito
ventral em seu peito. Eu leio a bíblia, afinal me acalma e acalma a Alice, além de lembrar dos "ditados" de meu pai...que em outras palavras levam em consideração os ensinamentos bíblicos acho que até mesmo sem ele saber, sei lá....
Enfim, chego até a pensar que Alice é sensível a Lactose, pois ela agora, quando está acordada, faz força como se quisesse eliminar os gases ou defecar, SEMPRE e o tempo todo que está acordada, o intestino SEMPRE parece estar super-ativo, ela SEMPRE geme muito, O TEMPO
TODO mas está ganhando peso, é nítido, parece que a cada dia está mais fofinha, mas mesmo assim acho necessário a realização deste exame, porque por minha experiência nula acho que isso não é normal...
Dado os tramites por findo, mesmo que dure de 3 a 4 meses as cólicas, de acordo com a literatura, por causa da imaturidade intestinal, o lance é sempre estar calmo, sei que as vezes é difícil, mas as crianças sentem isso mais que os adultos até; amor, e mais amor, principalmente quando o desespero bate, afinal, amar é proteger, proteger é sentir no frio o calor de um abraço, é estar sempre disposto a embalar as noites mais duras, é viver em paz em meio a luta e guerra e ter sempre no coração um riso amigo que te faça melhor a cada segundo!














